sábado, 25 de junho de 2011

Estilhaços (Parte III)

“Pegou na mão livre da irmã e arrastou-a dali para fora. Voltou a cabeça para trás somente uma vez, e isso só o fez acelerar o passo, ao deparar-se com dois olhos amarelos de pupilas fendidas que os espreitavam. Dois olhos sem corpo.

Quando chegaram à base das escadas, já no hall de entrada, Jun soltou um suspiro de alívio, apesar do sentimento não ser completo. A pontada de medo infiltrara-se como um espinho que se esconde na carne e se aprofunda mais de cada vez que o tentava remover. Âmbar olhou-o de soslaio.

- Já com medo, mariquinhas? – Quis saber, erguendo uma sobrancelha em modo de desdenho. – Ainda mal começámos.

Tocou com a ponta da espada nas escadas, como que testando a sua veracidade, não fosse uma ilusão criada por um espírito matreiro. Mas confirmou a sua compacticidade, antes de dar o primeiro passo. A madeira rangeu em modo de ameaça, o que fez Jun encolher o pescoço entre os ombros. Infelizmente para ele, não era uma tartaruga com carapaça onde se esconder. Mas de que serviria tal casota contra seres do outro mundo?

Seguiu então a irmã, ponderando cada passada e olhando para trás por várias vezes, como quem espera uma perseguição prestes a acontecer. O segundo piso carecia em iluminação, pois não era muita a luz que conseguia rastejar até ali. As janelas que houvesse estariam escondidas dentro dos quartos, a maioria de porta fechada, ou quase.

- Mana, talvez já esteja na hora do lanche, é melhor voltarmos. – Era uma fraca forma de dissuadir Âmbar de prosseguir. – Ou a mãe vai chatear-se connosco…

- Nós acabámos de chegar, não sejas totó.

Continuou, sem esperar por ele, e o rapaz, não querendo ser deixado sozinho, correu três passos rápidos, colando-se aos calcanhares da irmã que empunhava a arma de brincar como se pudesse vir a utilizá-la a qualquer momento.”

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